segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

RISO QUADRÁTICO

*Para se ler ouvindo Malemolência, da Céu.



















Seu riso plano, sua boca aberta em  riso largo, grande.

O riso quadrático inverte a ordem do comum.
E ao invés de estar dentro, fora se faz 
TODO
emoldurando o quadrado duro da fotografia lisa.


Riso-fotográfico.
Riso-relevo.
Topogáfico.


A fotografia não é nada sem esse riso-tudo. Todo.Todo esse riso: Sorriso. Só-riso.

A boca. O rosto da boca e não o contrário. Aquela boca tem um rosto. Aquela boca tem olhos grandes,áqueo-tremeluzentes.

Boca, por ora, sem voz. Mas que se diz em imagem. Aquela boca se diz sem a voz.

Os meus olhos tolos, olhos de bobo esperam. Esperam pela aparição da imagem-boca no (quase)quadrado plano iluminado da tela-apática.

Boca-telepática.

Os meus olhos tolos, olhos de bobo esperam como uma epifania o nome da boca diante dos olhos.

Enquanto os olhos de bobo esperam,
Aos ouvidos, a voz escorrega vagarosa.

Céu. Boca. O céu da boca. A boca do céu.

O azul do olho-Céu.

O corpo, antes duro, doído-doendo e doendo-se em dor de doer 
des-dói-se doendo

E macio sente  o gosto perigoso
e bom do primeiro passo:
do primeiro passo depois de.

Do primeiro passo depois que descobriu que.

O corpo todo cai na dança
Na roda da malemolência.


***



terça-feira, 19 de novembro de 2013

ERUDITOPOPULAR


De toda maneira usar a palavra: com prosa, poesia, mestria, destreza, dureza, atropeçando na língua-dialeto eruditopopular e servindo-se do que lhe soa milhor Na hora da fala, no instante do já, enquanto se diz tudo é verbo: do discurso-rebuscado ao repente-improvisado, do barroco à povera, do dizível ao indizível, do não-dito ao todo-dito. Com ou sem ismos, no exato instante do segundo que passa, no visgo do improviso da palavra dita, o ouvindo tinindo já se faz de compreendido a intindido. A língua per-passa pelos descaminhos da regra. Já longe de como se dividia nas veredas do comunicar, a língua se faz Proesia.


...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Transcendental

*Para ler ouvindo Louco por você, do Caetano. (clique no nome da música)


Assim que se definia os sentires quando seu corpo todo era alisado,  quando seu corpo todo - todo ele - se deitava e fazia amor com aquela voz tão gostosa, de um gosto de corpo, cheiro de pele:
Salgada como seu suor.
Aquela voz - o corpo daquela voz.

O corpo daquela voz lhe entrava por todas as vias abertas de seu corpoele.

Transcendental. Totalmente. Uma relação tão antiga e íntima. Sentia-se macio, afiado, ele mesmo mais aquela voz. todaquela voz.
Assim lhe é aquela voz, que lhe come todo, que lhe mastiga inteiro. ele é tragado por aquela voz. Mas é ele mesmo quem se nutre. A música é a possibilidade do sexo total, do sexo transcendental. Por muitos anos ele transa com Caetano. para ter mais Caetano. para ser mais Caetano. Para Caetanear o seu dia. Para ser-se nele: Ser-se Caetano: No rotmo, na velô-cidade.

Ele é louco por aquela-essa voz. Aquela-essa voz é tudo que ele deseja ter e ser. palavra cantada, matizada, poematizada, gritada, palavra falada, palavra lambida, palavra lambível, sussurrada. palavra segredo. palavra-palavra.
Som sinestesia.
O fenômeno paralém da voz: em nós. isto que nos-vos chega pelos buracos do corpo-cabeça e se espalha por todocorpo é mais: muito mais!, que talvez, não seja possível se dizer explícito, em palavra inteligível, em palavra falada. porque a língua não dará conta. Há de se inventar uma língua para se falar e dizer o que é esta voz. Em mim, mais de mim sem fim.

E, em tempo:
Tornar-me um ser-espaço-tempo.

O velho

E vê-se o velho, nu, escorado pela quina-parede azulejada, chão e parede. Nu. O velho. Sem roupa, desnudo. Em pele. Enrugado. Obsoleto. Flácido pau mole. Banguela. Mijado. Sem pêlos. Nu inteiro.

Sua língua  - pedaço de língua velha - jaz no chão azulejado, fragmento-velho. Ele olha por um tempo a sua língua, do canto da parede suja. Velha.

- A minha língua se rompeu. E o que me resta, agora, são balbucios ininteligíveis.
Depois de velho, tornei-me uma criança, cujas palavras não tem crédito, porque não são palavras. Des-sou. Des-falo. sem língua: línguarrebentada. Sem palavra.

Em um quase movimento tenta pegar o pedaço de língua velha. No meio do esticar dos dedos, para. Desiste.

- Sim...

Ainda tenho muito a dizer.
Porque nunca é o bastante.
Porque nunca se diz tudo.

E ali, escorado pela quina-parede azulejada, chão e parede, o velho continuou por todos os outros dias.
O velho termina. Mas nunca acaba.

Pusfloescente

 A palavra inflamada
Sai como pus 
Pelo buraco
Da ferida-boca:
Pusfloresce, 
Pusfloescente.
Ardente. 
por entre língua
E dentes.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Duas forças da natureza

*Para se ler ao som do ar. Ao som do mar.

Em uma conversa, acabou percebendo que não escrevera muito, enquanto estava com Ele. Claro, fazendo uma comparação com o relacionamento mais remoto que teve, pontuado por textos de texturas diversas. Textos táteis, com odores e cores. Ficou a pensar nesta nova e pequena curiosidade. De imediato, respondeu à amiga, “foram momentos diferentes. Ele viveu mais coisas, a relação se deu de outra forma. Mais madura, talvez...”. Foi uma tentativa de não deixar o comentário solto, no meio daquela conversa. Na verdade, escreveu, sim, em texto, algumas palavras. A conversa caminhou com passos bêbados e, de uma observação fugaz, acabou na absurdidade da sagrada família. Isso porque sempre suas conversas tombam para uma filosofia esdrúxula. Mas que alimenta a vontade de pensar mais um pouco.

Foi-se, somente: só, embora acompanhado de si mesmo, embora. Para casa.

No dia seguinte, o rapaz voltou a pensar no que a amiga havia falado, sobre não ter escrito nada enquanto esteve com Ele. Ao passo que lembrou mil coisas, junto, numa espécie de retrospectiva afetiva, dessas que todo mundo tem quando está mergulhado em sua própria fossa e faz força para não sair dela. Porque não deixa de ser um ritual; que não tem nada a ver com práticas sadomasoquistas. Mas, sim, com a prática da vida, mesmo. O rapaz percebeu que não teve tempo de escrever textos em seus cadernos e folhas soltas por sua bolsa. O que fez durante todo o tempo em que passou com Ele foi justamente escrever: mas usou a vida como folha.  Escreveu-se inteiro em suas carnes.

Este rapaz, pela primeira vez, escreveu a sua vida em sua própria vida. E relê-la, em carne-viva, de fato, causa mais emoção do que a superfície impessoal do papel branco.


As palavras escritas em cores de sorrisos, em capítulos lindos, donde se vê de frente um mar que não se acaba porque se constitui de dois corpos largos, de uma cor tremeluzente, de agitação de mar aberto. Eram dois sóis junto. Diferentes em tudo. Iguais no calor. No ardor. Eram dias de tempestade. Trovoadas, raios, descargas elétricas. Eram duas forças da natureza. Eram tanto que não se cabiam. Maremoto.  Escreveram dias chuvosos, invernais, donde não se via luz. Eram dias de breu. Para o depois das largas horas, re-nascerem os sóis em um amarelo ovo, lindo. Duas gemas brilhantes. Barrocas. Eram duas forças da natureza. Duas forças da natureza que se alimentavam uma da outra. Que se nutriam a si mesmas. Que foram criadas muito para elas mesmas. Mas, que um dia, o mundo 
Bipartiu. 
Tripartiu.
Polipartiu. 
Milipartiu 
Infinipartiu. 

E o que se sabe deles, é que estão percorrendo em outros lugares, em correntes várias: pelos ares. Pelos mares.

Monólogo a dois


A - Amar, às vezes, dói...

B – Sim. Dói muito...

A – Eu amo você.

B – E eu doo por isso.

...

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Enquanto isso. Enquanto tudo isso. Enquanto se vive.



Os pés estavam nus. Por sobre a areia. Lá estava ela. De frente para o Mar Aberto. Sozinha. Sem nenhum alguém que existisse. Além do próprio Mar. Ficou ali. Estática. Hermética: Mulher. Ela e o Mar. Duas forças da natureza.
A Mulher permaneceu a encarar o Mar Aberto. Invejou sua coragem, d’ele ser ele mesmo, em seu estado natural e selvagem. Por um longo instante, naquela eternidade em que se encontrava, ali, de frente para a imensidão, ficou calada. Pés nus. Sobre  areia. Lá . De frente. Mar Aberto. Sozinha. Sem nenhum alguém que existisse. 

Levou um susto com aquele corpo peludo correndo pela praia, a enfiar a cabeça na areia, atirando-se nas ondas, e, ressurgindo, de modo atrapalhado e selvagem com a bolinha vermelha na boca.   

 Um cachorro.

- A imagem daquele cachorro de pelos pretos brilhantes, foi, pra mim a maior humilhação que pude passar. E sem se dar conta, aquele cachorro-preto-lindo, esfregava na minha cara o simulacro de ser em que eu tinha me tornado. Aquele cachorro usou de tamanha crueldade comigo... Eu só olhava para ele... desejava ser aquele cachorro. Desejava ser bicho. Um bicho. Aquele bicho. Eu queria ser aquele cachorro. Porque ele era o que havia nascido. Ele era bicho, livre pra ser o que era em seu estado mais exposto. Era cruelmente lindo vê-lo sendo. Enquanto a mim, uma sucessão de imagens falsas de uma pessoa que não sou. Desejei com todas as minhas forças ser aquele cachorro.                                                                  

Ou o Mar Inteiro.........................................................................................

A única coisa em que eu consegui me tornar - Enquanto isso. Enquanto tudo isso. Enquanto se vive. - A única coisa em que eu consegui me tornar foi em uma cebola. Eu sou uma cebola. Uma triste e lamentável cebola. É muito duro você ter que admitir pra si mesma que você é uma cebola, sabe?.............. 

Oi? De que o quê?
...

Do que é feita a cebola?

Você descasca descasca descasca descasca descasca descasca descasca  até que em algum momento ela ACABA simplesmente ACABA assim sem mais nem menos deixa de Existir a cebola não tem núcleo não tem caroço semente fundo origem essência você sabe a gravidade disso você ser simplesmente nada o nada coisa alguma nenhum nada além daquilo que se vê?... Eu consenti ao espelho em ser aquilo que ele me reflete. A sensação que me dá é que dentro-aqui-dentro. é o  oco. (  ) O vento quando corre, canta. Mas é um canto oco. O único som que este corpo traz é o canto oco que o vento faz, quando me percorre dentro, roçando na mudez do osso.
Nem onda. 
Nem latido. 
.

Não sirvo pra ser Mar........................................................................... 
......................
Nem cachorro. 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

DIGESTESIA

Para ler ouvindo o mundo.

(Por Eliza Viana, a amiga dela. Além de mim.)

Lambo,
devoro,
mastigo
o mundo,
as carnes,
os gostos,
os cheiros

que me passam pela garganta
pouco depois.

Às vezes engasgo,
cuspo,
vomito.

Noutras passa direto.

As enzimas e sucos
me seguram no estômago
as rimas que engulo.
De um jeito ou de outro
Sempre viram texto,
embora nunca repita as texturas
do que me tece as fibras,
as vísceras, as veias
e o sangue que corre
do sexo à boca
em segundos.
Regurgito palavras mordidas 
E escorrem por entre meus dentes 
Pedaços de páginas lidas. 
Peso o meu corpo nas curvas das rimas 
Por cima de mesas, do verso ao reverso. 
Defloro francesas
Chupo seus verbos, lambo suas linhas.
 Gosto do gosto do roçar das línguas
 Levo à boca não os licores
Mas a cachaça-verso, o vinho-poema.
Meu corpo franzino, anti-erudito
Perpassa entre o lirismo das latas de lixo,
No fundo do fundo do fundo do poço
Do pseudo-corpo-oco dos poetas sem paraíso. 
Assimetricamente estruturada,
Surjo embriagada de poesia
Beijo Clarices, alicio Leminskis,
e fujo de mim, para estar mais comigo.
E quando o mundo já perde seu brilho (e brio)
Deito a alma-nua, pra regurgitar, tudo outra vez,
No breu qual Caio Frenando Abreu.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

NOS POÇOS


Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.

O ovo apunhalado - C.F.A

Para lugar algum...

Antes, era como um momento leve, suspenso no ar. Muito leve e suave. Era um quase transbordamento. Era uma brisa leve no rosto, um carinho na cabeça, dedos alisando os cabelos. Antes era um quentinho bom, um cheiro de pele macia. Era um sorriso espontâneo. Era uma vontade realizada e outra vontade e outra realização. Era assim, só que bem mais.

Ela acreditou que estava em um momento onde tudo era visto de forma suave e leve. Era uma imagem lírica, como um filme de cinemascope. Todo movimento era fluido e se estendia pelas horas que se arrastavam entre um instante  e outro, mas que eram tão fortes quanto uma tromba d'água: abrupta. Passaram-se dias , meses, anos.

Hoje é indiferente. É um momento denso, tenso, pesado. É um momento bruto e rascante. É um frio da madrugada, que corta a pele. Um soco no estômago, mãos esganando o pescoço. Hoje é um deserto, um cheiro forte de mofo. Um quarto vazio. Uma casa suja. Hoje é um dia esquecido. Um par de olheiras, um rosto acabado em frente ao espelho. É uma vontade não realizada. Um filho abortado. É um membro amputado. Hoje é uma caixa de antidepressivo. Dois comprimidos de calmante. Um dia inteiro dormindo. Um talho de navalha em cada pulso. Um grito seco, um choro abafado. Uma alma engasgada. Um peito afogado. Uma voz calada. Um monstro radioativo. O apocalipse segundo João. O revés do conto de fadas. Hoje, ela é uma mulher abandonada. 

Hoje acordou com a mesma película nevoada nos olhos e sentia o mesmo cheiro de flores que nunca existiram. Seu corpo recebia toda a luz dos dias de sol e  refletia  raios escarlates. Vermelho todo ele. Neste mesmo dia, toda sua fantasia caiu e o vermelho que coloria o corpo escorreu por sobre o chão, ficou opaco, enxergou sem a névoa e,finalmente, respirou a fragrância de dióxido de carbono das anti-flores do mundo. Seu estômago doeu, Sua boca azedou e sua pele descamou. Olhou seu corpo apocalíptico no espelho. Milagrosamente reconheceu-se. Agradeceu por tudo aquilo, por enxergar antes tarde do que nunca, a sentir o odor da anti-flor e a sentir dor nos ossos fracos. Sorriu vazia. Determinadamente vazia: Ela.

sábado, 19 de janeiro de 2013

O EREMITA



[Não sei. talvez, saudade.]

Se muito não esqueço, ULYSSES é aquele homem que luta para retornar ao seu lugar, ao seu lar. Hoje, senti que estou fazendo [ou tentando] como  ele: Estou buscando voltar para o meu lugar. [Se possuo um.]

- Por que meus olhos viram com entusiasmo, um entusiasmo como que uma coisa de esperança-de-luz-no-fim-do-túnel?

Reconheci Vitor Arruda. Chorei ao ver Beatriz Milhazes [como quem reconhece as referências sutis e imediatas de um possível-lugar-familiar] - como um estrangeiro, longe de seu lar, que olha uma foto e volta para casa em saudade e alma.
Levei um choque com a obra "EU PAISAGEM", do artista que não me vem o nome de cabeça. Foi como ver o meu espelho passado, do tempo em que eu me enxergava como tal: uma paisagem tropical. Uma parafernália  PA.RA.FER.NÁ.LIA. [Eu era do tamanho desta palavra. Hoje, sou palavra alguma.]
...

[Não sei. talvez, saudade.]

Nelson Leirner e seu sincretismo Brasil-sil! [Uma Arte Brasileira!] Choro ao deparar-me com sua obra. E lembro de sua barba branca e seu potencial! E tantos outros incríveis! Tudo lindo!

Hoje, foi um [re]encontro com um pedaço de mim. Perdido por aí.

Ando um tanto sem mim e, rever-me os pedaços, os desejos e sonhos, fez mexer comigo.

Até posso dizer que fui contente.

[08|01|2013]

Porque só nós sabemos dar um beijo na alma


Para se ler ouvindo Um Abraçaço.




Eu leio TODOS os seus escritos. E isso me faz estar mais juntinho de você.

Imagino cenas com tudo que você escreve. Imagino, um dia, você em uma dessas livrarias, com música-instrumental-ambiente-à-novela-do-Manoel-Carlos, essas que sempre tem Helenas e o Lugar mais novo na descoberta do autor é o Leblon. Não o Leblon da Adriana Calcanhotto, cujo o inverno é quase glacial. Mas um Leblon do "Você-viu-só-que-amor- nunca-vi-coisa-assim...". Imagino você numas dessas livrarias cult-bacaninhas, em um lançamento dos seus livros de contos, de quase-vidas. A cena perece um tanto descolada de tudo que você é. Eu sei. Mas é só uma construção da minha cabeça que  não muda: sempre voando. Mas, no seu caso, acho que o melhor lançamento seria em uma livraria onde um barzinho fosse o vizinho. Onde diversas pessoas fora-da-roda estivessem juntas a falar e se embriagar (Porquê não também de poesia?).

Estou escrevendo isso porque sinto saudades dessa sua imagem de menina magrinha, que de tão delicada, parece que vai quebrar. Mas que engana  a gente. Que se mostra um estivador quando abre a boca e quando dá voz à cabeça e às mãos. É fato que somos um tanto diferentes. Você é mais Moska-Arnaldo-Chico. E eu, um talvez-Gal-ou-quiçá-Caetano... Mas, de resto, de todo o resto, que é total, somos UM. E devo reconhecer que muito que eu sou, em palavras, e em (des)entendimento das coisas, devo à você.



Tenho saudade daquelas conversas que só nós sabemos onde ela não vão parar. Tenho saudade porque gosto dessas suas qualidades estranhas, de achar que existe um período do ano, todo ano, em que as pessoas vão até você, para contar algum segredo. De ter uma quase-vergonha de receber dinheiro para estudar e trabalhar (achando que nunca está estudando o que deveria). E porque só nós sabemos dar um beijo na alma!

Te escrevo como um beijo na alma, como um abraço: um abraçaço.

Lendo o que você escreve eu lembro que você ainda tem um quinhão em mim. Porque sempre terá. Porque nós somos para nós dois assim: Ir-rediáveis.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Amém!

O dia em que o Deus descansou e apreciou a sua criação.O dia da santa Missa, do almoço em família (para as famílias dos comerciais de margarina). Também é o dia daqueles programas de TV que não sabemos o porquê começam e numa saberemos quando termina...Também é o dia da ressaca - para mais festeiros: domingo.

Domingo é dia que se arrasta lento, lonnnnnnnnnnnnnnngo.  No domingo, ele, um corpo de homem, com seus 1 e 70 e poucos de altura, tornou-se o próprio domingo. Esticado, horizontal, por sobre o quente incômodo da cama.

Deus-e conta de que passava das 13 horas. Mas pouco ligou.

Passou o não- dia a pensar. Lá, pelas tantas do dia, decidiu. Teria a promessa de amar. Amar tudo. Mais. Amar mais ainda, de modo grande, todo, muito e total a outra alma!


Decidiu escrever, para fazer nascer um novo mundo. Para ter uma segunda-feira mais feliz.
Hoje, ele descobriu que tem a felicidade e não precisa mais dos domingos arrastados.

Amém!









Estúpido


Gostaria que hoje, somente hoje, o mundo tivesse desabando. Muita chuva, frio. Ao contrário do que eu gostaria, o dia está, para o senso comum, "lindo!". Um sol desses de verão, claro, janeiro-Rio de Janeiro, queria mais o quê? Mas a tempestade, o inverno, o frio, a casa gelada, a chuva, o som da chuva, o barulho da chuva. Tudo isso é desejado por mim. Se acaso este desejo fosse agora, este agora  poderia ser um quase para sempre. Não sei se eu dentro estou em clima de inverno. Ou se prefiro escrever as coisas que me vem e que sinto quando o tempo está assim, chuvoso...

Há muito tempo... fui me caracterizando como uma pessoa solar, de gestos solares, como uma tropicália. Hoje, me vejo bem distante dessa composição estético-pessoal. Não sei em qual quadrado me inserir... sinto que, quando estou andando sozinho- quando subo do mergulho e vejo o mundo, as outras pessoas, as rotinas, o movimento da cidade- sinto que tem alguma coisa de diferente. Estou descolado desse ritmo.  Estou sem o ritmo. Não tenho mais aquela habilidade espontânea de cantar uma música, quase como uma explosão inesperada, quando alguém quer saber qual música tem mais a ver comigo. Sobre os assuntos que me rodeavam, não sei mais quase nada. A sensação que tenho é aquela de, quando adolescentes, diz para alguém que pergunta algo sobre a escola - "eu seu isso, mas esqueci.". A consciência de que já estudou o assunto ainda está lá, mas o conteúdo, a experiência que o ato de estudar proporcionou, escorreu pelo mundo. E isso se prolonga, se estica para todos os outros saberes.  Do erudito ao popular. Não sei mais nada. Tampouco sobre mim. Cheguei ao ponto de sentar-me no salão, para cortar os cabelos, e não saber explicar como quero o corte, levando em conta que a ideia era manter o corte anterior... Ando perdendo o verbo, as escolhas...  Não sei se destranco a faculdade, se me transfiro pra outra, mudo de graduação, se leio um livro de literatura francesa (que estou tentando ter desde sei lá quando...), se volto a tentar escrever uma peça de teatro ou se compro um celular, um ultrabook, que nem sei o que significa...  A vontade de morar sozinho ainda existe. Há dias que eu quero me mudar, mudar de casa, mudar de mim... Tem vezes que eu penso em juntar uma grana pra viajar. Mas aí, lembro que a máquina de lavar da minha casa pifou. E lavar edredom na mão é quase castigo... Então, acabo fazendo absolutamente nada.

Tenho a leve impressão de que estou me tornando um estúpido...

Pareço não ser de lugar algum. Ando e ando e ando como quem procura alguma coisa que caiu pelo caminho. Ultimamente tenho me sentido assim, como quem perdeu alguma coisa.  Como se, a cada passo eu perdesse algum objeto. Mesmo procurando, não acho.

No fim das contas, meu caro, chego à conclusão que, em verdade, são as coisas quem me perderam...