domingo, 25 de novembro de 2012

"O fim do mundo é sem fala."

Existe um momento onde o vazio, de fato, exite. Onde o silêncio não diz nada. Onde não há nenhuma cor. Onde não se sente nenhuma pulsação sanguínea. Não existe tempo, espaço. Só existe o nada. O silêncio. Longo. Profundo. Onde o corpo morto se mostra como se apresenta: Morto e só. Dentro desse silêncio, por vezes (por muitas vezes), se sente pelo rosto silencioso o escorrer quente e abrupto, longo das lágrimas salgadas de um corpo que se esvai, se implode, qual prédio condenado, lençol abaixo (ou mesmo dentro de um box gelado).  Isto é um corpo que morre.

"O fim do mundo é sem fala."



sábado, 24 de novembro de 2012

O Menestrel

[William Shakespeare]


Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.

E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas. Começa a aceitar
suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de
uma criança. 

Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto
demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você
aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que, não importa o quanto você se
importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma
pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. 

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la...
e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. 

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você
tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam... Percebe que seu
melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as
pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa... por isso sempre
devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.

 Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende
que não importa onde já chegou, mas para onde está indo... mas, se você não sabe para onde está indo,
qualquer caminho serve. 

Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão... e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a
pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu
com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do
que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens... Poucas
coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. 

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. 

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém...Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo. 

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.

 Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

"Todos viemos do mar "*,


Me parece bem recorrente tal ação. Só hoje pude perceber: Pertenço ao mar. Somente hoje percebi que aquele enquadramento visual de areia-mar-horizonte, somado a estados de espírito muitos me são recorrentes. Sempre, em determinados e importantes momentos, estive de frente para o mar. A praia. "Todos viemos do mar "*, (darwinianamente falando,). E retorno a ele.
Hoje, retornei ao meu berço. Sentei-me. Senti. Ouvi. Vivi o mar. A experiência visual, olfativa, tátil é a possibilidade de voltar ao mar. Mergulhei inteiro. Só de olhar.



*NotaNome de uma série de trabalhos realizados pelo artista plástico Farnese de Andrade.

Transbordante!

Olhou para o fundo de si mesmo.
Decidiu não acumular palavras não ditas e gestos mortos. Hoje, a partir de hoje, é e será um ser! transbordante! Como uma nascente.

Ele tornou-se uma nascente que já é tromba d'água.

Sobre ouvir. Nada mais.

Bem sabia. Até porque escreve e lê: interpreta. Portanto, entende. Sabe escrever aquilo que se pensa, inventa situações mescladas com pedaços de realidades que quase são jogadas ali, no texto, como uma confissão. Como um testemunho. Sabe, escrever é um ato belo, digno. Mas, o saber ouvir é mais. É grande. Total. Isso ele não sabia. Mas aprendeu. Na prática.

Ouviu tudo aquilo que o outro disse. E não foi um dizer sem pensar porque não se diz aquilo que não se pensa. Ele acredita que se alguém disse algo é pelo fato de já ter querido dizê-lo.
 Quase que inevitável. Então, pôs-se a ouvir. Descobriu que o ouvir-jogar-na-cara é mais doloroso que um tabefe bem dado no rosto. É um tombo, dos bem tomados, depois do tapa. É mais doloroso porque é uma dor provida do acúmulo: de palavras ditas para o outro; de dores em cadeia: palavras e ações guardadas para serem atiradas ao corpo; palavras-tapa-na-cara; palavras-tombo.

Não engoliu a seco, como de costume. Apenas recebeu tais palavras, calado, complacente, como quem recebe a eucaristia. Foi um momento de escuta que se prolongou por todo o corpo, dando eco.

As palavras, por onde batem, arranham. Ressoam mais forte. Sentiu vontade de ir embora para qualquer lugar. Para qualquer não-lugar. Mas:

Ficou.
Permaneceu.
Calado.
Ouvindo.
Dolorido.
Vivo.

Há palavras violentas. Com força abrupta.

Um quase segredo

Parado.

Ele consegue sentir. É um desejo. Uma vontade de. Um quase segredo. Quase porque já foi dito. Mas prefere, por ora, manter assim: com caráter misterioso.

Até que cegará a hora d'ele voltar a desvelar o que estava coberto de poeira, esquecido no fundo da estante empoeirada, com seus livros que nunca leu. Voltará ele, sentindo-se mais pleno. Sendo muitos... Mas, por enquanto, o palco fica no campo imaterial e seu segredo, ainda guardado atrás das cortinas veludo vermelho.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Um presente. Uma partilha.



Sexta-feira, 25 de maio,2012

Palco

Para se ler ao som de Quereres.
Para Thiago Ortiz. 

Não é só porque eu sei que você vai ler que eu escrevo. Escrevo porque eu vivo cenas que eu gostaria de colocar em falas da sua boca, porque eu acho que ficariam mais bonitas na sua língua. Os meus silêncios, os meus gritos, as minhas insanidades de desespero ficariam melhor no teu corpo, no teu timbre e isso, ah, isso já faz de ti um ator.

Escrevo porque você é a única pessoa do mundo que entenderia a tranquilidade da frase "Está tudo bem, ela não foi ao cinema, foi só ao motel". Talvez você também seja a única pessoa que entenda porque é melhor estar no motel, é melhor voltar pra casa, é melhor rasgar cadeiras, gritar insanidades de quando já não se tem mesmo voz.

Além do teu abraço que foi mesmo a única coisa que eu queria. Além do estranhamento que é te ver tão pouco e saber o quanto você toca a minha alma mesmo virtualmente nesse mundo virtual idiota. Além dos meus problemas de eterna adolescente desescontrada, além dos teus problemas de um artista preso num corpo e numa vida pequenas demais para a grandeza que você é. Além de você estar aqui mesmo sem estar aqui para segurar minha mão e dizer que vale a pena sofrer ou que não vale.

Além de tudo o que é transcendental, além de tudo que é virtual, o que é real, o que é insosso, o que sofrido, o que é trabalho, o que é desemprego, o que é mãe, o que é casa, o que é mãe, o que é relacionamento, o que é término, começo, fim, meio. Você é a pessoa que partilha tudo isso de longe, você é a pessoa que eu quero ver num palco e para isso, juro, eu ponho as palavras na sua boca porque eu sei que você vai saber quando elas devem ser cuspidas. Façamos!


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Verborragia 1

(Clique no link para ouvir)


Passa o dia todo a pensar. Como quem quer descobrir a pólvora. Lê em voz alta, desenha, rabisca, vê um monte de coisas. Se entope de café. Lembra que precisa ter uma caneca vermelha. De louça. Mas, se contenta com uma de ágata na loja que entrou um dia, mas não comprou porque estava duro. Mais uma vez sonha. Angustia-se e pega o telefone. Disca para o número que já decorou. Chama, chama... ninguém atende.
Esquece.
Depois de um tempo, toca o telefone.

(Atende o telefone...)
- Alô!

- Oi. Você me ligou...

- Sim! Tudo bem?

- Tudo...Então, o que é?

- Eu queria falar com você sobre algumas... (é cortado)

- Fala!

(Assusta-se com a interrupção. Em silêncio, com o fone preso, entre o ombro e o ouvido, e segurando o restante do aparelho telefônico, anda até a mesa e pega um cigarro. Caminha até a janela da sala. Senta-se na cadeira. estica as pernas no braço da poltrona velha. Acende um cigarro. Respira fundo)
- É...
Há momentos em que desejo,sim, deixar de ser essa verborragia que me constitui. Esse hermetismo. Esse bolo de palavras sem uma vírgula sequer. Sou um texto desordenado, sem continuidade e ideia fixa. Como matéria, não sou. Não consigo me pegar com as mãos e isso faz com que eu me lembre o colo que não tive.

- O quê?! Não tô te entendendo. Olha, se você está dizendo isso porque eu falei que você era complicado, relaxa, falei sem pensar.

(como quem nem se dá conta do que o outro disse, continua...)
 - Sempre fui assim, sozinho. Com essa ânsia de criar um bando.  Coisa típica, frase pronta, do sujeito, quando me conhece - deslumbrado com minha superfície exótica, de  mil tons, camaleonicamente colorido, colares e extravagâncias corporais e uma tropicalidade louca - diz: "ah, coisa de artista". Mas...o que é ser artista? Nem pergunto o que é SER porque aí, vou perder toda a normalidade que já não possuo. Tudo que sei é que eu desejo,sim, deixar de ser essa verborragia que me constitui. Desejo ser um tanto compreendido... pela boca que me beija, ao menos.
Há momentos em que eu gostaria de acordar sem saber falar uma palavra sequer. Sem ter a consciência de saber. Gostaria apenas de experimentar, mudamente, cada pequena coisa. Aprender cada migalha do mundo e esquecer tudo, um segundo depois. Mas,não. Eu sou um fluxo interminável. Oscilante e cheio de uma vontade de "fazer-ser" alguma coisa. Ando por entre as vielas dos meus sonhos insustentáveis sem terminar ciclos. desenho coisas aleatórias, escrevo projetos e mais projetos. termino as coisas antes mesmo de iniciá-las. Sou estranhado por todos, quando me veem mais profundamente. Já ouvi que sou puro, no mesmo ínterim em que me escarneceram por motivos quaisquer. Já fui criticado por conta dos meus olhos rápidos, que olham (e querem olhar) o mundo. A visualidade me chama atenção. Gosto dos corpos que andam e tento imaginar como é a vida deles. Me pergunto, por vezes, se esses corpos que andam sabem que estão vivos e, além, se sabem o que é vida. Sei lá. Se são felizes com o que são... Sobre o ver todas-as-coisas, me parece que é um exercício mais profundo. O olhar e ver. Com tudo que em mim respira...
Não desejo absolvição. Não é isso...
Não sei nem o porquê estou falando isso. Talvez seja, somente, um tentativa - fra-cas-sa-da -  de desfazer esse nó cego na minha garganta-alma. Talvez, seja melhor chorar. Mas um chorar até o avesso. Morrer. Pra nascer outro. Leve. Confesso que já o fiz algumas muitas vezes. Choro e choro tanto, que chego a ter dores de cabeça. Minha cara fica vermelha qual pimentão. Meu corpo se retorce e eu escorro pelo box, junto com a água que vai para o ralo. A tentativa de morrer ali, no chão molhado do banheiro é nula. Não renasço leve. Ressuscito mais pesado do que antes fui:
 Arsênico-chumbo-cádmio-crómio-manganês.

Eu só queria te dizer isso, não sei. Dividir um pouco de mim com você. Dizer que eu aprendi que a vida não é tão bonita assim e que eu descobri o porquê das tintas existirem. Pra deixar as coisas mais bonitas... Eu sei, não tem nexo, coerência nem nada. É isso,mesmo.


Ultimamente, de uns 25 anos pra cá, tenho tentado. Muitas coisas. Quase nenhuma. Venho brincando de ser... Mas eu só tenho conseguido ser ,mesmo, um signo gráfico de vestígios de um "eu" perdido no anonimato urbano, a clamar por uma autoria e uma individuação. Um corpo  composto de pequenas anotações de um diário - desenho -, que estão à espera de significação para si mesmas. Formas que se esvaem. Heroicamente sós.

- Eu não sei o que dizer.

-Não precisa dizer nada.

(Silêncio absurdo, como se ambas as almas se recuperassem de tudo falado e escutado.)

(Em estado de choque)
- Depois a gente se fala. (desliga o telefone antes mesmo do outro responder)

-Um beijo.








terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Versos brancos





Te dou estes versos brancos
Tão claros quanto teu sorriso pra mim
Pros dias de inverno
de tanto
possas lembrar que um dia
sem pranto
pra ti existi
Com o mesmo sorriso claro e simples
como estes mesmos versos brancos
Que já, como teu amor
chegou ao fim.
[30/03/2008]

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Eu escolhi não me estancar mais


Sinto.

A vida é muito imensa e, ao mesmo tempo, muito fina, frágil. Se não cuidar, ela arrebenta...
eu escolhi não me estancar mais.

Desisti de interromper o fluxo de rio que eu sou. Por isso, não prendo minhas palavras mais. Tampouco os meus quereres. Sentimentos represados dão indigestão. E o querer não realizado vira fel na boca. É de sabor amargo. Eu prefiro doer aos berros e fazer sangrar do que  mastigar todos os meus não-feitos...

é por isso que eu choro toda hora! Porque eu sei que preciso colocar pra fora todo esse maremoto que eu tenho e sou. Eu sou uma catástrofe natural. Meu peito é mina d’água, salobra, que não cessa. Tromba d’água que arrasta tudo.

 Violenta.             

Meu coração é selvagem.
Sou metade bicho, metade natureza.

Sou todo eu.

Quando eu encontro comigo, além de mim.



Acabei por descobrir que eu, dentro desse sistema fluido, orgânico, corporal, não me basto mais. Minha presença física não tem o mesmo ´peso dos meus pensamentos e muito menos preenche meu corpo filosófico. Eu descobri que preciso ser mais que um corpo, somente. Eu sou todo-corpo, e essa corporeidade me mantém no mundo, mas não me prolonga. Descobri que preciso pagar as dívidas com o supra-corporal, com o extra-sensível. É preciso tocar fundo no orifício intangível da vida que se tem, mas não se leva...