quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Enquanto isso. Enquanto tudo isso. Enquanto se vive.



Os pés estavam nus. Por sobre a areia. Lá estava ela. De frente para o Mar Aberto. Sozinha. Sem nenhum alguém que existisse. Além do próprio Mar. Ficou ali. Estática. Hermética: Mulher. Ela e o Mar. Duas forças da natureza.
A Mulher permaneceu a encarar o Mar Aberto. Invejou sua coragem, d’ele ser ele mesmo, em seu estado natural e selvagem. Por um longo instante, naquela eternidade em que se encontrava, ali, de frente para a imensidão, ficou calada. Pés nus. Sobre  areia. Lá . De frente. Mar Aberto. Sozinha. Sem nenhum alguém que existisse. 

Levou um susto com aquele corpo peludo correndo pela praia, a enfiar a cabeça na areia, atirando-se nas ondas, e, ressurgindo, de modo atrapalhado e selvagem com a bolinha vermelha na boca.   

 Um cachorro.

- A imagem daquele cachorro de pelos pretos brilhantes, foi, pra mim a maior humilhação que pude passar. E sem se dar conta, aquele cachorro-preto-lindo, esfregava na minha cara o simulacro de ser em que eu tinha me tornado. Aquele cachorro usou de tamanha crueldade comigo... Eu só olhava para ele... desejava ser aquele cachorro. Desejava ser bicho. Um bicho. Aquele bicho. Eu queria ser aquele cachorro. Porque ele era o que havia nascido. Ele era bicho, livre pra ser o que era em seu estado mais exposto. Era cruelmente lindo vê-lo sendo. Enquanto a mim, uma sucessão de imagens falsas de uma pessoa que não sou. Desejei com todas as minhas forças ser aquele cachorro.                                                                  

Ou o Mar Inteiro.........................................................................................

A única coisa em que eu consegui me tornar - Enquanto isso. Enquanto tudo isso. Enquanto se vive. - A única coisa em que eu consegui me tornar foi em uma cebola. Eu sou uma cebola. Uma triste e lamentável cebola. É muito duro você ter que admitir pra si mesma que você é uma cebola, sabe?.............. 

Oi? De que o quê?
...

Do que é feita a cebola?

Você descasca descasca descasca descasca descasca descasca descasca  até que em algum momento ela ACABA simplesmente ACABA assim sem mais nem menos deixa de Existir a cebola não tem núcleo não tem caroço semente fundo origem essência você sabe a gravidade disso você ser simplesmente nada o nada coisa alguma nenhum nada além daquilo que se vê?... Eu consenti ao espelho em ser aquilo que ele me reflete. A sensação que me dá é que dentro-aqui-dentro. é o  oco. (  ) O vento quando corre, canta. Mas é um canto oco. O único som que este corpo traz é o canto oco que o vento faz, quando me percorre dentro, roçando na mudez do osso.
Nem onda. 
Nem latido. 
.

Não sirvo pra ser Mar........................................................................... 
......................
Nem cachorro.