quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Diariamente!

Hoje eu acordei com vontade de comer um livro. Um livro não. Muitos. Histórias, teorias. Qualquer coisa pra preencher um enorme espaço vazio de atividades nulas, que costumeiramente chamamos de férias. Ode ao ócio! [??] Isso me enjoa.
No mesmo ínterim, quero assistir uma peça do Caio Fernando e ler um livro seu de teatro - emprestado - e ir ao cinema e pintar e fazer um curso no Parque Laje porque lá é lindo e me parece bem do jeito que eu gosto: livre! Quero escrever num caderno novo algumas coisas e fazer uma peça e dar um beijo na boca e ir à praia e morar na água porque o calor está comendo o mundo e trabalhar e beber um copo d'água e falar outra língua e cantar e poder pagar todas as minhas contas e ficar o dia todo no ar-condicionado e sorrir e sair pra um milhão de lugares e fazer outros milhões de amigos e comprar um par de chinelos amarelos e viajar e ficar nu e raspar a cabeça e voar de asa delta e fazer trilha e aparender a tocar violão e andar descalço e publicar um livro e ser famoso e ter três filhos e chamar a primeira de Nina e a segunda de Flor e o terceiro de Tito e comprar uma casa bonita e ter um cachorro e uma mulher pra chamar de minha e uma biblioteca e não ter mais gastrite e não precisar de antidepressivos e ter muitos sonhos bonitinhos e chamar os amigos pra uma festinha no fim de semana e sair correndo par qualquer lugar. Ou seja, Hoje eu acordei com uma vontade de comer a vida inteira, pra ficar vivo eternamente. Pelo menos por hoje.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

...
"Meu pensamento se sente passarinho no ninho do corpo dela. Passarinho que, para descrever nossos encontros e minhas lembranças, talvez seja capaz. Minhas asas batem e permaneço imóvel. E isso me faz perceber que, por mais que eu pense estar mudado, eu ainda sou o mesmo. Mesmos amores, mesma essência."

A Santa Missa

A Santa Misssa. Seus olhos, de ambos, conheceram-se antes de tudo, mas não perceberam simultaneamente. Os dele viram-na primeiro. Os dela talvez. Talvez. Talvez não com o mesmo vigor. A Santa Misssa, o domingo, tornou-se, então, o dia mais esperado. Era o dia dos olhos receberem a graça divina, além da alma. Como de costume, trocávamos somente olhares. Mas um dia: a epifania. Toda a graça dos céus, toda luz do mundo invadiu-me o peito e dissipou-se por todo meu corpo. Ela deu-me um sorriso. Tímido. Mas deu-me um sorriso. O único. O mais lindo. Indiscutivelmente. Aquele sorriso valeu-me mais que mil orações, mil homilias. O Evangelho do dia para mim foi o Evangelho do Santo Sorriso, todos os capítulos, todos os versículos. Glória a Vós, Senhor.
Já na fila para receber o corpo de Cristo, junto às devotas e outros fiéis, estava eu, sempre a olhar sua figura mais que divina. Ela passou por mim e ouvi o coral de anjos regozijando com toda glória. O Ministro da Eucaristia:

- Corpo de Cristo. E no mesmo instante, ela deu-me um “bom dia”. Fiquei tão confuso que disse:

- Amém, para ela.
- Bom dia, para a hóstia.

Que o Senhor Jesus Cristo não me ouça os pensamentos e tampouco leia tais escritos. Mas, daquele momento em diante, comunguei o “bom dia” como o Seu próprio.

- Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!

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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

2mil&10!

Chegada de ano novo sempre vem com um gosto bom, uma expectativa, uma energia que nos toma de todo. Esquadrinhamos novos projetos, sonhos e até assumimos novas e diferentes posturas. Quem já disse para si e para os outros “2010 será diferente!”? E é realmente essa a chave da questão. Ser diferente. O “ser diferente” é dar a si mesmo mais uma oportunidade de tentar, de fazer, de ser. O ano começa sem medo, sem ressentimentos, sem peso. Leve como um sonho de criança, puro e colorido. O ano novo. Uma nova vida. Caminhos, gentes, promessas, enfim, um sem número de adereços para enfeitar a trajetória que dura 365 dias.
Que possamos, apesar dos pesares, das disputas de poder, do clientelismo, da falácia dos homens corrompidos e da descrença dos pessimistas, fazer um 2010 mais humano, em relação aos que passaram. Porque idealizar projetos, sonhar, anotar suas metas e pendurá-las em um mural é muito mais fácil e cômodo. Sonhar não dói e projetos idealizados nunca contam com imprevistos. A vida também e feita de revés. Que além de sonhar, possamos nos dar a tal oportunidade de agir, de trabalhar com empenho, para que a abstração de um simples sonho se torne uma realização concreta.
A hora de tirar nossos projetos da lista inerte de metas para este ano que se inicia é agora, e como diz o poeta Fabrício Carpinejar: – Que me seja permitido desaprender os limites”.

domingo, 3 de janeiro de 2010

uma essência muito boa

Repassei as páginas do ano que passou. Vi que havia deixado pra trás, em baixo de um monte de poeira, uma essência muito boa. Uma coisa cheia de matizes reluzentes e sons de floresta, gestos carnavalescos, um perfil tropical. Havia deixado de lado, embaixo de um monte de poeira, uma essência. A minha tropicalidade. retomo o que é meu. Volto a ser Eu. Saio pra rua,com a minha velha roupa colorida, na linguagem do alunte, pros pingos da chuva me molhar!



"Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso,
Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas,
Passado, presente,
Participo sendo o mistério do planeta
O tríplice mistério do "stop"
Que eu passo por e sendo ele
No que fica em cada um,
No que sigo o meu caminho
E no ar que fez e assistiu
Abra um parênteses, não esqueça
Que independente disso
Eu não passo de um malandro,
De um moleque do brasil
Que peço e dou esmolas,
Mas ando e penso sempre com mais de um,
Por isso ninguém vê minha sacola"

everythin' means nothin'

É.
Depois de tantas sensações quais não foram descritas com o verbo, depois de tantos momentos que não foram registrados pela máquina de escrever e sequer pela tinta de uma caneta - mas sim pelos olhos, pele, carne - ele, que já havia, pelo menos pensado ter superado o retrato vivo do ontem, recebe a notícia que não poderia chegar: Ela está nos braços de outro. Outros braços. Que não são os seus.De imediato se riu e achou bom. Ela merecia. Era o que Carlos achava do peito pra fora.


Chega em casa. Vê a foto daquela que não é mais sua - porque nunca o foi, visto que todos nascem livres, mas isso não vem ao caso. O caso é que ela não era mais sua e ponto. Escreve pra ela. Mas escreve dando felicitações de ano novo e outras formalidades mais. Não era isso. Carlos acabou por trocar o papel pelo peito e escrevera tudo o que gostaria de dizê-la dentro dele. Tudo pra não aguar o amor alheio, que podeira ser o seu...

Tem uma sensação estranha pelo corpo. Uma corrente de ar que passa pela garganta e todo o resto do corpo. Senta-se no terraço e olha para o céu que está avermelhado. Não lembra de ter visto lua. Madrugada.

" everythin' means nothin' if i ain't got you..."

Ele, uma música ao fundo e o céu vermelho de meia noite. Os três dentro de um mundo enorme e vazio. Carlos sabia o que estava acontecendo. Só não queria entender...