domingo, 7 de agosto de 2011

O meu amor não é egoísta

Depois da espera. Um beijabraço. Um assassinato da saudade. Um reencontro de si no outro. A afinação do mundo.


De si-para-si disse, que na verdade era para o outro:


- Estive pensando hoje: como é bom deitar-se na cama e ver o brilho da lua nos olhos de alguém. Melhor ainda é acordar e ter o sol ao seu lado!


E enquanto os dois corpo dormiam abraçados, o sol entrava pelas frestas da janela branca, percorrendo as linhas sinuosas de suas pernas, cinturas e braços. enquanto ele dormia abraçado com aquele corpo que lhe é tão apraz, sonhava. Sonhava com aquele corpo. Era uma presença que tomava todos os espaços.Fora e dentro. O sol gritando para levantarem os dois daquela cama que os prendia. Era uma vontade infinita de permanecer naquele espaço em que um complementava o outro. Uma preguiça do mundo pasteurizado e impessoal. Juntos, reinventam  todo universo. Muda nomes e cores. Tudo.


E o riso fez-se frouxo e escorreu por todo aquele corpo ensolarado e leve e livre. Livre! O peso da saudade se foi, dissipou-se no ar da noite. Foi como um mergulho no mar, que revitaliza. Foi como acordar tarde. Só que bem mais tarde...


Levantaram e foram. Cada qual para seu destino, naquele dia que nasceu, não com um, mas com  três sóis. Os seus e o do mundo. Não se sabia qual dos três brilhava mais... 


Depois daquele dia, no mesmo dia, dormiu. Dormiu só com a lembrança e com as marcas das mãos e pernas e boca e alma daquele corpo, em seu corpo imaterial. Lembrou como era bom o amor. Lembrou também que, antes de se fazer com o outro corpo todo eclipse, ouviu  de um certo alguém que o amor é egoísta. 


- Como pode ser o amor egoísta?!- pensou. O amor é, antes de tudo, liberdade. É pássaro que não se pode pegar com as mãos. Porque se pegarmos, ele não voa, ele não canta. Ele morre. O meu amor não é egoísta. O meu amor é meu e do todo mundo. Para todo o mundo.


Apagou a luz e,enfim, dormiu. Leve como nunca havia sido. E de modo místico e amoroso, sonhou com ele, com aquele corpo, que sonhava com o seu. Abriu os olhos surpreso. Sorriu e percebeu, mais uma vez,como era bom o amor que só eles entendem, o amor deles. Lembrou que era bom viver.


 "Mas deve haver algum jeito exato de contar essa história que começa e não sei se termina ou continua assim:
Sonhei que você sonhava comigo. Ou foi o contrário? Seja como for, pouco importa: não me desperte, por favor, não te desperto."





E, continuando os dois a sonhar aquele sonho bom, os passarinhos avuaram e tornaram todo horizonte não mais distante.





segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Poema – não – poema [Sintaxe]

Boca voz verso
em mim atroz
Deságua
Foz
maré cheia- ressaca
engole o mundo
engasga palavra
descabida
vida que se tem arredia
vontade do absurdo
momento
insano de fazer poesia a carne
crua que se mantém viva a alma
errante
passos confusos
pensamentos infindos
problemas não
matemáticos
da vida que é minha por
excelência. Na adição
de subtração dos
valores
fra – ci -
o -
na -
dos
decomponho-me
nas escolhas que não tem raiz
exata
para encontrar
a sintaxe que este
poema – não – poema
está longe de
ter.


 

Será?


Será você um pássaro ou um avião?
Será você um bandido ou um herói?
Será você isto ou aquilo?
Será você uma música ou uma dança?
Será você oito ou oitenta?
Será você um doce engano ou um sonho bom?
Será você um fantasma ou a fada madrinha?
Será você o príncipe encantado, ou apenas uma página de um livro plano?
Será você meu espelho ou o antirreflexo?
Será você ou eu?





Sobre a saudade...


 "Estava pensando uma forma de não ser, nem saudade, nem lembrança. Uma forma de não ficar de maneira nenhuma.
Estava pensando uma forma de não ter saudade, não ter lembrança.
O que seria então?"
 [clara anastácia] 




Às vezes, penso que não gostaria mais de de ser brasileiro. Alguém disse que a palavra saudade só existe pra nós. Se é verdade, eu não sei. Só sei que sinto a palavra que conheço. Cada sílaba. Não sei. Mas, poderia ter nascido chinês...

A saudade tem textura. a palavra arranha tudo, quando roça nas vísceras da gente, de modo silencioso. É linha com cerol... Mas é que, por vezes, saber identificar o que se sente é um tanto diferente. É exato. Direto demais. É ter o diagnóstico da doença na tua mão. Sentir algo e não saber o que é, também é diferente. Mas a gente toma algum remédio qualquer, tipo dorflex, que todo mundo jura servir pra tudo, e tá bom. Ah, já não sei mais de nada.... A saudade é o revés do ter... A saudade pelo que não temos nos presenteia com os espaços vazios deixados pelas coisas, sem mesmo terem existido pra nós e em nós. É um querer não saciado. É um vento por entre nosso gesto de abraço em coisa alguma...A saudade dói. Mas alimenta a fome dos quereres!