terça-feira, 19 de novembro de 2013

ERUDITOPOPULAR


De toda maneira usar a palavra: com prosa, poesia, mestria, destreza, dureza, atropeçando na língua-dialeto eruditopopular e servindo-se do que lhe soa milhor Na hora da fala, no instante do já, enquanto se diz tudo é verbo: do discurso-rebuscado ao repente-improvisado, do barroco à povera, do dizível ao indizível, do não-dito ao todo-dito. Com ou sem ismos, no exato instante do segundo que passa, no visgo do improviso da palavra dita, o ouvindo tinindo já se faz de compreendido a intindido. A língua per-passa pelos descaminhos da regra. Já longe de como se dividia nas veredas do comunicar, a língua se faz Proesia.


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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Transcendental

*Para ler ouvindo Louco por você, do Caetano. (clique no nome da música)


Assim que se definia os sentires quando seu corpo todo era alisado,  quando seu corpo todo - todo ele - se deitava e fazia amor com aquela voz tão gostosa, de um gosto de corpo, cheiro de pele:
Salgada como seu suor.
Aquela voz - o corpo daquela voz.

O corpo daquela voz lhe entrava por todas as vias abertas de seu corpoele.

Transcendental. Totalmente. Uma relação tão antiga e íntima. Sentia-se macio, afiado, ele mesmo mais aquela voz. todaquela voz.
Assim lhe é aquela voz, que lhe come todo, que lhe mastiga inteiro. ele é tragado por aquela voz. Mas é ele mesmo quem se nutre. A música é a possibilidade do sexo total, do sexo transcendental. Por muitos anos ele transa com Caetano. para ter mais Caetano. para ser mais Caetano. Para Caetanear o seu dia. Para ser-se nele: Ser-se Caetano: No rotmo, na velô-cidade.

Ele é louco por aquela-essa voz. Aquela-essa voz é tudo que ele deseja ter e ser. palavra cantada, matizada, poematizada, gritada, palavra falada, palavra lambida, palavra lambível, sussurrada. palavra segredo. palavra-palavra.
Som sinestesia.
O fenômeno paralém da voz: em nós. isto que nos-vos chega pelos buracos do corpo-cabeça e se espalha por todocorpo é mais: muito mais!, que talvez, não seja possível se dizer explícito, em palavra inteligível, em palavra falada. porque a língua não dará conta. Há de se inventar uma língua para se falar e dizer o que é esta voz. Em mim, mais de mim sem fim.

E, em tempo:
Tornar-me um ser-espaço-tempo.

O velho

E vê-se o velho, nu, escorado pela quina-parede azulejada, chão e parede. Nu. O velho. Sem roupa, desnudo. Em pele. Enrugado. Obsoleto. Flácido pau mole. Banguela. Mijado. Sem pêlos. Nu inteiro.

Sua língua  - pedaço de língua velha - jaz no chão azulejado, fragmento-velho. Ele olha por um tempo a sua língua, do canto da parede suja. Velha.

- A minha língua se rompeu. E o que me resta, agora, são balbucios ininteligíveis.
Depois de velho, tornei-me uma criança, cujas palavras não tem crédito, porque não são palavras. Des-sou. Des-falo. sem língua: línguarrebentada. Sem palavra.

Em um quase movimento tenta pegar o pedaço de língua velha. No meio do esticar dos dedos, para. Desiste.

- Sim...

Ainda tenho muito a dizer.
Porque nunca é o bastante.
Porque nunca se diz tudo.

E ali, escorado pela quina-parede azulejada, chão e parede, o velho continuou por todos os outros dias.
O velho termina. Mas nunca acaba.

Pusfloescente

 A palavra inflamada
Sai como pus 
Pelo buraco
Da ferida-boca:
Pusfloresce, 
Pusfloescente.
Ardente. 
por entre língua
E dentes.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Duas forças da natureza

*Para se ler ao som do ar. Ao som do mar.

Em uma conversa, acabou percebendo que não escrevera muito, enquanto estava com Ele. Claro, fazendo uma comparação com o relacionamento mais remoto que teve, pontuado por textos de texturas diversas. Textos táteis, com odores e cores. Ficou a pensar nesta nova e pequena curiosidade. De imediato, respondeu à amiga, “foram momentos diferentes. Ele viveu mais coisas, a relação se deu de outra forma. Mais madura, talvez...”. Foi uma tentativa de não deixar o comentário solto, no meio daquela conversa. Na verdade, escreveu, sim, em texto, algumas palavras. A conversa caminhou com passos bêbados e, de uma observação fugaz, acabou na absurdidade da sagrada família. Isso porque sempre suas conversas tombam para uma filosofia esdrúxula. Mas que alimenta a vontade de pensar mais um pouco.

Foi-se, somente: só, embora acompanhado de si mesmo, embora. Para casa.

No dia seguinte, o rapaz voltou a pensar no que a amiga havia falado, sobre não ter escrito nada enquanto esteve com Ele. Ao passo que lembrou mil coisas, junto, numa espécie de retrospectiva afetiva, dessas que todo mundo tem quando está mergulhado em sua própria fossa e faz força para não sair dela. Porque não deixa de ser um ritual; que não tem nada a ver com práticas sadomasoquistas. Mas, sim, com a prática da vida, mesmo. O rapaz percebeu que não teve tempo de escrever textos em seus cadernos e folhas soltas por sua bolsa. O que fez durante todo o tempo em que passou com Ele foi justamente escrever: mas usou a vida como folha.  Escreveu-se inteiro em suas carnes.

Este rapaz, pela primeira vez, escreveu a sua vida em sua própria vida. E relê-la, em carne-viva, de fato, causa mais emoção do que a superfície impessoal do papel branco.


As palavras escritas em cores de sorrisos, em capítulos lindos, donde se vê de frente um mar que não se acaba porque se constitui de dois corpos largos, de uma cor tremeluzente, de agitação de mar aberto. Eram dois sóis junto. Diferentes em tudo. Iguais no calor. No ardor. Eram dias de tempestade. Trovoadas, raios, descargas elétricas. Eram duas forças da natureza. Eram tanto que não se cabiam. Maremoto.  Escreveram dias chuvosos, invernais, donde não se via luz. Eram dias de breu. Para o depois das largas horas, re-nascerem os sóis em um amarelo ovo, lindo. Duas gemas brilhantes. Barrocas. Eram duas forças da natureza. Duas forças da natureza que se alimentavam uma da outra. Que se nutriam a si mesmas. Que foram criadas muito para elas mesmas. Mas, que um dia, o mundo 
Bipartiu. 
Tripartiu.
Polipartiu. 
Milipartiu 
Infinipartiu. 

E o que se sabe deles, é que estão percorrendo em outros lugares, em correntes várias: pelos ares. Pelos mares.

Monólogo a dois


A - Amar, às vezes, dói...

B – Sim. Dói muito...

A – Eu amo você.

B – E eu doo por isso.

...