quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Duas forças da natureza

*Para se ler ao som do ar. Ao som do mar.

Em uma conversa, acabou percebendo que não escrevera muito, enquanto estava com Ele. Claro, fazendo uma comparação com o relacionamento mais remoto que teve, pontuado por textos de texturas diversas. Textos táteis, com odores e cores. Ficou a pensar nesta nova e pequena curiosidade. De imediato, respondeu à amiga, “foram momentos diferentes. Ele viveu mais coisas, a relação se deu de outra forma. Mais madura, talvez...”. Foi uma tentativa de não deixar o comentário solto, no meio daquela conversa. Na verdade, escreveu, sim, em texto, algumas palavras. A conversa caminhou com passos bêbados e, de uma observação fugaz, acabou na absurdidade da sagrada família. Isso porque sempre suas conversas tombam para uma filosofia esdrúxula. Mas que alimenta a vontade de pensar mais um pouco.

Foi-se, somente: só, embora acompanhado de si mesmo, embora. Para casa.

No dia seguinte, o rapaz voltou a pensar no que a amiga havia falado, sobre não ter escrito nada enquanto esteve com Ele. Ao passo que lembrou mil coisas, junto, numa espécie de retrospectiva afetiva, dessas que todo mundo tem quando está mergulhado em sua própria fossa e faz força para não sair dela. Porque não deixa de ser um ritual; que não tem nada a ver com práticas sadomasoquistas. Mas, sim, com a prática da vida, mesmo. O rapaz percebeu que não teve tempo de escrever textos em seus cadernos e folhas soltas por sua bolsa. O que fez durante todo o tempo em que passou com Ele foi justamente escrever: mas usou a vida como folha.  Escreveu-se inteiro em suas carnes.

Este rapaz, pela primeira vez, escreveu a sua vida em sua própria vida. E relê-la, em carne-viva, de fato, causa mais emoção do que a superfície impessoal do papel branco.


As palavras escritas em cores de sorrisos, em capítulos lindos, donde se vê de frente um mar que não se acaba porque se constitui de dois corpos largos, de uma cor tremeluzente, de agitação de mar aberto. Eram dois sóis junto. Diferentes em tudo. Iguais no calor. No ardor. Eram dias de tempestade. Trovoadas, raios, descargas elétricas. Eram duas forças da natureza. Eram tanto que não se cabiam. Maremoto.  Escreveram dias chuvosos, invernais, donde não se via luz. Eram dias de breu. Para o depois das largas horas, re-nascerem os sóis em um amarelo ovo, lindo. Duas gemas brilhantes. Barrocas. Eram duas forças da natureza. Duas forças da natureza que se alimentavam uma da outra. Que se nutriam a si mesmas. Que foram criadas muito para elas mesmas. Mas, que um dia, o mundo 
Bipartiu. 
Tripartiu.
Polipartiu. 
Milipartiu 
Infinipartiu. 

E o que se sabe deles, é que estão percorrendo em outros lugares, em correntes várias: pelos ares. Pelos mares.

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