sexta-feira, 1 de junho de 2012

Sobre ouvir. Nada mais.

Bem sabia. Até porque escreve e lê: interpreta. Portanto, entende. Sabe escrever aquilo que se pensa, inventa situações mescladas com pedaços de realidades que quase são jogadas ali, no texto, como uma confissão. Como um testemunho. Sabe, escrever é um ato belo, digno. Mas, o saber ouvir é mais. É grande. Total. Isso ele não sabia. Mas aprendeu. Na prática.

Ouviu tudo aquilo que o outro disse. E não foi um dizer sem pensar porque não se diz aquilo que não se pensa. Ele acredita que se alguém disse algo é pelo fato de já ter querido dizê-lo.
 Quase que inevitável. Então, pôs-se a ouvir. Descobriu que o ouvir-jogar-na-cara é mais doloroso que um tabefe bem dado no rosto. É um tombo, dos bem tomados, depois do tapa. É mais doloroso porque é uma dor provida do acúmulo: de palavras ditas para o outro; de dores em cadeia: palavras e ações guardadas para serem atiradas ao corpo; palavras-tapa-na-cara; palavras-tombo.

Não engoliu a seco, como de costume. Apenas recebeu tais palavras, calado, complacente, como quem recebe a eucaristia. Foi um momento de escuta que se prolongou por todo o corpo, dando eco.

As palavras, por onde batem, arranham. Ressoam mais forte. Sentiu vontade de ir embora para qualquer lugar. Para qualquer não-lugar. Mas:

Ficou.
Permaneceu.
Calado.
Ouvindo.
Dolorido.
Vivo.

Há palavras violentas. Com força abrupta.

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