Gostaria que hoje, somente hoje, o mundo tivesse desabando. Muita chuva,
frio. Ao contrário do que eu gostaria, o dia está, para o senso comum,
"lindo!". Um sol desses de verão, claro, janeiro-Rio de Janeiro,
queria mais o quê? Mas a tempestade, o inverno, o frio, a casa gelada, a chuva,
o som da chuva, o barulho da chuva. Tudo isso é desejado por mim. Se acaso este
desejo fosse agora, este agora poderia ser um quase para sempre. Não sei se
eu dentro estou em clima de inverno. Ou se prefiro escrever as coisas que me
vem e que sinto quando o tempo está assim, chuvoso...
Há muito tempo... fui me caracterizando como uma pessoa solar, de gestos
solares, como uma tropicália. Hoje, me vejo bem distante dessa composição
estético-pessoal. Não sei em qual quadrado me inserir... sinto que, quando
estou andando sozinho- quando subo do mergulho e vejo o mundo, as outras
pessoas, as rotinas, o movimento da cidade- sinto que tem alguma coisa de
diferente. Estou descolado desse ritmo. Estou sem o ritmo. Não tenho mais
aquela habilidade espontânea de cantar uma música, quase como uma explosão
inesperada, quando alguém quer saber qual música tem mais a ver comigo. Sobre
os assuntos que me rodeavam, não sei mais quase nada. A sensação que tenho é
aquela de, quando adolescentes, diz para alguém que pergunta algo sobre a
escola - "eu seu isso, mas esqueci.". A consciência de que já estudou
o assunto ainda está lá, mas o conteúdo, a experiência que o ato de estudar
proporcionou, escorreu pelo mundo. E isso se prolonga, se estica para todos os
outros saberes. Do erudito ao popular. Não sei mais nada. Tampouco sobre
mim. Cheguei ao ponto de sentar-me no salão, para cortar os cabelos, e não saber
explicar como quero o corte, levando em conta que a ideia era manter o corte
anterior... Ando perdendo o verbo, as escolhas... Não sei se destranco a faculdade, se me
transfiro pra outra, mudo de graduação, se leio um livro de literatura francesa (que
estou tentando ter desde sei lá quando...), se volto a tentar escrever uma
peça de teatro ou se compro um celular, um ultrabook, que nem sei o que
significa... A vontade de morar sozinho
ainda existe. Há dias que eu quero me mudar, mudar de casa, mudar de mim... Tem
vezes que eu penso em juntar uma grana pra viajar. Mas aí, lembro que a máquina
de lavar da minha casa pifou. E lavar edredom na mão é quase castigo... Então,
acabo fazendo absolutamente nada.
Tenho a leve impressão de que estou me tornando um estúpido...
Pareço não ser de lugar algum. Ando e ando e ando como quem procura
alguma coisa que caiu pelo caminho. Ultimamente tenho me sentido assim, como quem
perdeu alguma coisa. Como se, a cada passo eu perdesse algum objeto.
Mesmo procurando, não acho.
No fim das contas, meu caro, chego à conclusão que, em verdade, são as
coisas quem me perderam...
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