domingo, 6 de janeiro de 2013

Estúpido


Gostaria que hoje, somente hoje, o mundo tivesse desabando. Muita chuva, frio. Ao contrário do que eu gostaria, o dia está, para o senso comum, "lindo!". Um sol desses de verão, claro, janeiro-Rio de Janeiro, queria mais o quê? Mas a tempestade, o inverno, o frio, a casa gelada, a chuva, o som da chuva, o barulho da chuva. Tudo isso é desejado por mim. Se acaso este desejo fosse agora, este agora  poderia ser um quase para sempre. Não sei se eu dentro estou em clima de inverno. Ou se prefiro escrever as coisas que me vem e que sinto quando o tempo está assim, chuvoso...

Há muito tempo... fui me caracterizando como uma pessoa solar, de gestos solares, como uma tropicália. Hoje, me vejo bem distante dessa composição estético-pessoal. Não sei em qual quadrado me inserir... sinto que, quando estou andando sozinho- quando subo do mergulho e vejo o mundo, as outras pessoas, as rotinas, o movimento da cidade- sinto que tem alguma coisa de diferente. Estou descolado desse ritmo.  Estou sem o ritmo. Não tenho mais aquela habilidade espontânea de cantar uma música, quase como uma explosão inesperada, quando alguém quer saber qual música tem mais a ver comigo. Sobre os assuntos que me rodeavam, não sei mais quase nada. A sensação que tenho é aquela de, quando adolescentes, diz para alguém que pergunta algo sobre a escola - "eu seu isso, mas esqueci.". A consciência de que já estudou o assunto ainda está lá, mas o conteúdo, a experiência que o ato de estudar proporcionou, escorreu pelo mundo. E isso se prolonga, se estica para todos os outros saberes.  Do erudito ao popular. Não sei mais nada. Tampouco sobre mim. Cheguei ao ponto de sentar-me no salão, para cortar os cabelos, e não saber explicar como quero o corte, levando em conta que a ideia era manter o corte anterior... Ando perdendo o verbo, as escolhas...  Não sei se destranco a faculdade, se me transfiro pra outra, mudo de graduação, se leio um livro de literatura francesa (que estou tentando ter desde sei lá quando...), se volto a tentar escrever uma peça de teatro ou se compro um celular, um ultrabook, que nem sei o que significa...  A vontade de morar sozinho ainda existe. Há dias que eu quero me mudar, mudar de casa, mudar de mim... Tem vezes que eu penso em juntar uma grana pra viajar. Mas aí, lembro que a máquina de lavar da minha casa pifou. E lavar edredom na mão é quase castigo... Então, acabo fazendo absolutamente nada.

Tenho a leve impressão de que estou me tornando um estúpido...

Pareço não ser de lugar algum. Ando e ando e ando como quem procura alguma coisa que caiu pelo caminho. Ultimamente tenho me sentido assim, como quem perdeu alguma coisa.  Como se, a cada passo eu perdesse algum objeto. Mesmo procurando, não acho.

No fim das contas, meu caro, chego à conclusão que, em verdade, são as coisas quem me perderam...

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