segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Uma íris cansada

Como se faz , por vezes, até jocoso, tentar lembrar dalguma coisa por mim vivida. O estranho de tudo isso é que o chavão "recordar é viver" não se aplica a tal prática. Busco dentro de minhas memórias pálidas e empoeiradas, da minha vida infinda, uma lasca de lembrança qualquer que seja, justamente para não viver. Revivo o ontem na busca de encontrar um rasgo, uma rachadura, um buraquinho na parede do tempo, a fim de descobrir um possível fim para mim. Por hora, fico a imaginar a minha morte, o meu desaparecimento do mundo e de mim mesmo. Já não conto mais os dias, visto que todos e cada dia se torna uma tortura inacabavel. Não durmo, mas também não vivo. Estou num estado de permanência constante em algum lugar que não sei qual, com pessoas que não sei quem. Num tempo que não é meu. Que passa, mas não me leva. Enquanto isso eu fico aqui, vendo o tempo passar, com minhas pálidas e empoeiradas lembranças, de uma vida quem nem me pertence mais. Eu, descolado do mundo, tenho a sensação de estar sendo sustentado por uma película muito fina, quase transparente, que me mantém num mesanino de tempo, no qual há uma força que me puxa para trás e outra que me empurra para frente. Tais forças me anulam de ação qualquer e por isso orbito em mim, mas também nas páginas da história, entre astros e corpos que não posso tocar. É uma máquina do [não]tempo. Eu, estranho e só, orbito por entre os tempos que não conheço. Eu, sem tempo que me fixe, não tenho o compromisso de um dia acabar. Desprendido da história, vejo as águas da humanidade formarem ondas e destruírem conceitos. Coroações de reis, batalhas sangrentas, revoluções, os amores e o mofo das velhas ideologias. As vanguardas: Um fluxo interminável de acontecimentos e mudanças quais não participo. Brinco de fazer revolução, de coroar reis e rainhas, de amar o mofo. Ironica e contraditoriamente para passar o tempo.Ahahahahahahahahahahaha! Sou uma testemunha. Uma íris cansada. Olhos sem pálpebras.
Talvez, talvez a única solução seja eu esquecer de mim. Assassino minhas lembranças, os mortos que nelas caminham. Vou demolindo cada pedaço da minha existência, até deixar de existir. Sim. porque a morte nada mais é do que deixar de existir para sempre. Acabar para o universo. É trancar-se no vácuo. No fundo escuro do espaço vazio.

Um comentário: