domingo, 30 de outubro de 2011

O espectro das coisas

Em um dia desses, em que o sol se esquece de se levantar, Carlos acordou e percebeu o mundo um tanto nublado. O tempo. Não gosta de dias nublados porque não corresponde à sua natureza solar e explosiva. O dia também estava diferente. Foi até a janela da sala. Olhou a rua quase tomada pela neblina. Abriu a janela e sentiu o vento gelado perpassar pelo seu corpo e cortinas e invadir a casa. Estava descalço, sem camisa, de cueca. Lembrou-se de Nina (ela gostava de dias nublados). Não se importou e permaneceu ali, com todo seu corpo, de frente para todo aquele mundo.

- Me vem a sua imagem em meus pensamentos e, estranhamente, me vem a sensação de que a lembrança é o todo seu que me ficou. Como se você tivesse morrido e eu aqui, vivo, a perceber que estou a lembrar de você. É um doer contido, inevitável, uma dor quase já confortada. Te vejo tão distante que não consigo tocar a ideia de teu ser em mim. É um espaço. Um vácuo... Sabe? É como visitar um lugar, uma sala, por exemplo, uma sala onde você esteve, onde ocorreu uma festa, um momento feliz. Depois de um tempo, você retorna ao espaço, à sala, e ela está completamente vazia. Você olha o espaço e vê, consegue ver a cena da festa, as pessoas. Escuta as conversas, a música... Os lugares onde cada coisa permanecia. O espectro das coisas. A lembrança é um espectro que flutua no espaço vazio do passado desbotado pela luz do presente...

E agora, agora só ausência... Você é a ausência que preenche meu espaço. Que preenche com seus todos nãos. Com suas todas faltas.

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