Mais uma vez. Todos os dias. Eu atrasei. Novamente.
Perdi o compromisso. Mais um de tantos outros.
Tem sido assim. Sempre. Não sei o que está ocorrendo. Eu me
perco no tempo e perco o tempo. Eu não tenho o tempo. Isso dói. Dói, mesmo. Como
se a vida ou o que há nela, ou eu, mesmo, não quisesse a minha chegada em lugar
algum. E me vejo sempre assim: indo. Atrasado. Fora do tempo. Com destino cancelado.
Diluído. Me excluindo.
Quando eu acho que estou controlando o tempo e me controlando
no tempo, o relógio avança com pernas maiores do que a minha capacidade de
raciocínio.
Estou aqui, em meio ao caminho, que não é o meio dele. Porque
o meio, mesmo, está longe... aí, os que esperam, desistem; Os portões se
fecham; vai-se embora todo o dia, para chegar outro igual, com a mesma
questão... isso tem esgotado s minhas forças, aniquilando minhas vontades.
Desintegrando minha existência.
Quero um horizonte para partir. Poder chegar. Mas não
consigo nunca. Ultimamente, meu horizonte tem sido o nada. Nada mais. E eu, que
ando tão rápido... tenho percebido que corro para não chegar.
E que, ao menos, eu tenha a decência de pedir desculpas...
se bem que eu poderia pedi-la antes, mesmo, de chegar ao destino não alcançado.
Antes, mesmo, de não encontrar quem já desistiu de me esperar.
Melhor que pedir desculpas seria não aceitar os convites que
não poderei estar – todos eles. Que ninguém mais me convide para ir, chegar,
encontrar. Somente para não estar. Convidar-me a me retirar, a não chegar.
Convidar-me ao não-convite. Talvez, este eu cumpra e chegue no horário.
Mais uma vez. Todos os dias. Eu atrasei. Novamente.
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