quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Outros fragmentos

“... E se eu parar de falar será porque não existe mais nada pra ser dito, se bem que nem tudo foi dito, se bem que nada foi dito...” [S. Beckett: Malone dies]


- Escrevo porque é a única coisa que me resta. Porque escrevendo minha alma não resseca e meu peito também não. E assim, vou enganando o tempo e tentando deixar viva a trajetória de uma vida inteira nas páginas encardidas e empoeiradas de minha memória. E assim, vou esperando a história, com h maiúsculo, resolver tornar-me visível. Mas, a partir de quando um cadáver se torna um cadáver histórico?
Além disso, escrevo para ver se ela volta. Mesmo que venha somente para me dizer “não”. Escrevo para que um dia eu possa pedir perdão por tê-la amado tão intensamente. Tão secretamente.
Hoje só me resta memória. Uma memória que não me traz nada além da ausência. Sem essência, sem nada. Oca como o vácuo. Como meu peito.
Chamo-me Domingos Dias Pereira. Sou brasileiro. Filho de pais brasileiros. Cristão católico. Morador do Rio de Janeiro. Introspectivo. Triste. Vivo entre livros. Descobri-me um homem de letras quando, na tentativa - inútil - de falar tudo o que sinto (um dia) para a mulher de minha vida, passei a escrever. Mas nunca, apesar de escrever sempre, entreguei as cartas.

Domingos sonha. Sonha em ter com ela uma vida. Uma eternidade. Para ela, Domingos é somente amigo. Pra ele, ela é somente tudo.

+++

Nenhum comentário:

Postar um comentário